terça-feira, 25 de outubro de 2016

João Beltrão, uma lenda na política alagoana

Postado por Magno Martins

Líder político dos Beltrão, o deputado estadual João Beltrão (PSD), que está licenciado do mandato em razão da sua saúde debilitada, é temido na região pela sua forma virulenta de fazer política e por métodos nada convencionais. Prefeito de Coruripe por três mandatos, virou uma lenda. Há quase 20 anos atuando no parlamento alagoano, seu grande feito nas eleições de 2014 foi ter transformado seu filho, o ministro Marx Beltrão, de Turismo, no segundo deputado federal mais votado do Estado.

O lado agressivo do velho cacique é conhecido em Alagoas e já destacado pela mídia nacional. Há pouco, ele foi condenado por crime de calúnia e difamação. Segundo a acusação, durante o comício do então candidato a prefeito do município de Campestre, Luciano Rufino, proferiu palavras caluniosas, difamatórias e injuriosas. Após análise da gravação do discurso pela Polícia Federal, o MPE denunciou João Beltrão e pediu sua condenação.

Durante o discurso, o deputado atribuiu crimes de roubo e homicídio ao opositor político, chamou-o de ladrão, bandido, canalha e safado. Caluniar, difamar e injuriar alguém com finalidade de propaganda eleitoral estão previstos no Código Eleitoral e, segundo a acusação, todos os crimes foram cometidos com causa de aumento de pena por terem ocorrido em comício, na presença de várias pessoas.

Numa ampla reportagem, com repercussão nacional, o jornal Folha de São Paulo traçou o perfil do líder da família. Com o título “O método João Beltrão”, a reportagem destacou que ele responde a dois processos em que já virou réu, acusado de mandante de assassinatos. Segundo a acusação, os crimes teriam sido praticados por funcionários do deputado. O advogado José Fragoso Cavalcanti diz que o deputado nega ter qualquer participação nos crimes.

As duas ações penais estão em fase de instrução, na qual as testemunhas serão ouvidas. Os processos tramitam no Tribunal de Justiça de Alagoas por causa do foro privilegiado do deputado, e ainda não há prazo para o julgamento. Em um dos processos, João Beltrão é acusado de ser o mandante da morte do empresário Pedro Daniel de Oliveira Lins, o Pedrinho Arapiraca, morto a tiros na cidade de Taguatinga, no Tocantins, em 2001. Segundo a acusação, Beltrão devia R$ 54 mil pela compra de cabeças de gado a Pedrinho Arapiraca. Um mês antes de morrer, a vítima tinha ajuizado uma ação na Justiça para cobrar a dívida.

No outro processo, Beltrão é acusado de ser o mandante do assassinato de José Gonçalves da Silva Filho, o cabo Gonçalves, em 1996. Ex-policial militar, Gonçalves teria descumprido a ordem de Beltrão de matar um adversário político e, por isso, teria sido morto. O deputado chegou a ser preso em 2008 acusado de participação no crime, junto com os também deputados na época Antônio Albuquerque e Cícero Ferro.

A prisão foi decretada no âmbito Operação Resurgere, da Polícia Federal, na qual os deputados eram acusados pelos crimes de pistolagem e formação de quadrilha. Todos negam as acusações. Beltrão ainda é alvo de um inquérito que apura a morte do bancário Dimas Holanda, em 1997. Nesse caso, contudo, o deputado não virou réu.

Em maio de 2006, revoltado com a insegurança já crescente, o deputado fez um discurso em uma solenidade ocorrida em Coruripe, e que foi transmitido por uma emissora de rádio, em que defendeu o uso do “método João Beltrão” para conter a violência. Como se manifestou o ex-prefeito do município?

– Se o governo não manda a polícia prender os ladrões, vou usar o método João Beltrão que vocês conhecem.

E para que não houvesse dúvidas quanto ao método proposto, o parlamentar foi além:

– Remédio de ladrão é espingarda.

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