domingo, 21 de outubro de 2012

A PALAVRA DO BISPO - O PODER CORROMPE?


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Em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) está terminando o julgamento do caso chamado de “mensalão”.
Dom Bernardino Marchió
Bispo Diocesano
Todos esperamos que, ao final do julgamento, a verdade se afirme e que as instituições democráticas dos três Poderes da República saiam preservadas e fortalecidas em sua credibilidade. Não leva bem, ao convívio democrático, nem ao progresso social e econômico, a suspeita permanente de que os Poderes são corruptos e a Justiça é apenas uma encenação, deixando prosperar impunemente a desonestidade.
O caso do mensalão, como não podia deixar de ser, expõe uma mazela moral, que também pode estar presente nos vários níveis de gestão do poder, quer no âmbito público, quer nos espaços das organizações sociais. A sabedoria popular diz que o poder corrompe; se a afirmação peremptória merece reservas, ela não deixa de apontar para uma constatação frequente: o exercício do poder está fortemente exposto à tentação da desonestidade e da corrupção, ativa ou passiva.
Não é inevitável que o poder corrompa; mas é certo que, nos organismos e instituições idôneas, ele tem a finalidade intrínseca de promover o que é bom e de servir à causa boa. Seriam ilegítimas e criminosas as organizações que investissem de poder a um chefe para promover o que é desonesto e mau. O poder é um serviço ao bem comum. Mas para que isso aconteça, é necessário que as pessoas investidas de poder sejam honestas, vigilantes e de caráter firme, para não se deixarem corromper, nem promoverem a corrupção. E as instâncias de controle do poder precisam funcionar, não sendo subservientes nem coniventes. A maior e mais importante dessas instâncias de controle é a própria sociedade civil, nas suas mais variadas expressões e organizações.
Corrupção e desonestidade, porém, não rondam apenas os escalões mais elevados do poder: a tentação pode estar presente igualmente nos níveis mais próximos do cidadão comum. Quando a pessoa investida de poder é desonesta e corrupta, o cidadão se vê desprotegido, violentado e lesado nos seus direitos, ameaçado por quem o deveria proteger. Pode, então, vir a tentação de seguir pela mesma via, acreditando que a honestidade não compensa e que, de todo jeito, os prepotentes e desonestos levam sempre a melhor. O mau exemplo das autoridades é corrosivo e induz à corrupção.
Também na vida privada, no trato de pessoa a pessoa e nas relações sociais não se está livre da tentação da desonestidade e da corrupção. Cada dia estamos a lamentar nas comunidades locais casos de trapaças, injustiças e roubos, nas formas mais diversas, até com violência e assassinatos.
A corrupção, antes de ser um ato praticado, é um fato na pessoa, uma deterioração da consciência moral. Esta aponta, normalmente, para o bem e previne contra o mal, mas pode ser desatendida mediante escolhas livres e decisões do sujeito. Motivos frequentes são a ambição, a busca do poder e da vantagem a todo custo, cujo atrativo pode sobrepor-se aos ditames da verdade e do bem. Silenciada a consciência, também se enfraquece o caráter e aparecem os comportamentos corruptos, que podem ir muito além da gestão do bem público.
Existe algum remédio contra corrupção da consciência e a desonestidade? Leis mais duras e apenas mais severas? Mais cadeias? Mais poder à política? Estamos diante da questão realmente crucial; é necessário formar a consciência ética das pessoas através da educação em todos os níveis, do berço até o leito de morte!
A lógica maquiavélica de que os fins justificam os meios precisa ser claramente desaprovada, não apenas no exercício da política, mas também nas relações sociais e na vida pessoal; e a “lei da vantagem”, se vale na partida de futebol, não pode ser aplicada ao campo comportamental.
Desejamos que os eleitos recentemente ofereçam ao povo brasileiro exemplos de honestidade e amor à Justiça.   
Por Jornal de Caruaru

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