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Em Brasília, o Supremo Tribunal Federal (STF) está terminando o julgamento do caso chamado de “mensalão”.
Todos esperamos que, ao final do
julgamento, a verdade se afirme e que as instituições democráticas dos
três Poderes da República saiam preservadas e fortalecidas em sua
credibilidade. Não leva bem, ao convívio democrático, nem ao progresso
social e econômico, a suspeita permanente de que os Poderes são
corruptos e a Justiça é apenas uma encenação, deixando prosperar
impunemente a desonestidade.
O caso do mensalão, como não podia deixar
de ser, expõe uma mazela moral, que também pode estar presente nos
vários níveis de gestão do poder, quer no âmbito público, quer nos
espaços das organizações sociais. A sabedoria popular diz que o poder
corrompe; se a afirmação peremptória merece reservas, ela não deixa de
apontar para uma constatação frequente: o exercício do poder está
fortemente exposto à tentação da desonestidade e da corrupção, ativa ou
passiva.
Não é inevitável que o poder corrompa;
mas é certo que, nos organismos e instituições idôneas, ele tem a
finalidade intrínseca de promover o que é bom e de servir à causa boa.
Seriam ilegítimas e criminosas as organizações que investissem de poder a
um chefe para promover o que é desonesto e mau. O poder é um serviço ao
bem comum. Mas para que isso aconteça, é necessário que as pessoas
investidas de poder sejam honestas, vigilantes e de caráter firme, para
não se deixarem corromper, nem promoverem a corrupção. E as instâncias
de controle do poder precisam funcionar, não sendo subservientes nem
coniventes. A maior e mais importante dessas instâncias de controle é a
própria sociedade civil, nas suas mais variadas expressões e
organizações.
Corrupção e desonestidade, porém, não
rondam apenas os escalões mais elevados do poder: a tentação pode estar
presente igualmente nos níveis mais próximos do cidadão comum. Quando a
pessoa investida de poder é desonesta e corrupta, o cidadão se vê
desprotegido, violentado e lesado nos seus direitos, ameaçado por quem o
deveria proteger. Pode, então, vir a tentação de seguir pela mesma via,
acreditando que a honestidade não compensa e que, de todo jeito, os
prepotentes e desonestos levam sempre a melhor. O mau exemplo das
autoridades é corrosivo e induz à corrupção.
Também na vida privada, no trato de
pessoa a pessoa e nas relações sociais não se está livre da tentação da
desonestidade e da corrupção. Cada dia estamos a lamentar nas
comunidades locais casos de trapaças, injustiças e roubos, nas formas
mais diversas, até com violência e assassinatos.
A corrupção, antes de ser um ato
praticado, é um fato na pessoa, uma deterioração da consciência moral.
Esta aponta, normalmente, para o bem e previne contra o mal, mas pode
ser desatendida mediante escolhas livres e decisões do sujeito. Motivos
frequentes são a ambição, a busca do poder e da vantagem a todo custo,
cujo atrativo pode sobrepor-se aos ditames da verdade e do bem.
Silenciada a consciência, também se enfraquece o caráter e aparecem os
comportamentos corruptos, que podem ir muito além da gestão do bem
público.
Existe algum remédio contra corrupção da
consciência e a desonestidade? Leis mais duras e apenas mais severas?
Mais cadeias? Mais poder à política? Estamos diante da questão realmente
crucial; é necessário formar a consciência ética das pessoas através da
educação em todos os níveis, do berço até o leito de morte!
A lógica maquiavélica de que os fins
justificam os meios precisa ser claramente desaprovada, não apenas no
exercício da política, mas também nas relações sociais e na vida
pessoal; e a “lei da vantagem”, se vale na partida de futebol, não pode
ser aplicada ao campo comportamental.
Desejamos que os eleitos recentemente ofereçam ao povo brasileiro exemplos de honestidade e amor à Justiça.
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