sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fenômenos eleitorais


Postado por Magno Martins

Paraíba elege vereador na prisão

CATOLÉ DA ROCHA (PB)- Localizada no alto sertão paraibano, a 411 km de João Pessoa, Catolé da Rocha, com cerca de 30 mil habitantes, até então era conhecida como berço do cantor Chico César, que ganhou o mundo com o seu talento musical. Depois das eleições, a cidade se “projetou” nacionalmente por ter elegido um vereador na cadeia. Ubiraci Rocha, o Bira Rocha (PPS), saiu das urnas com 948 dos 17.478 votos válidos, sendo o sexto entre os 11 paramentares mais votados do município. Ele não teve direito a fazer campanha, porque a prisão se deu em maio deste ano, dois meses antes das convenções partidárias.

O detento, quando assumir a vaga, irá compor a base aliada do prefeito reeleito Leomar Benício Maia (PTB). Com 40 anos, Bira tem o sobrenome do clã que deu origem ao município, com DNA Rocha. “Nossa família tem tradição histórica na política de Catolé desde o nosso bisavô, um dos fundadores da cidade”, orgulha-se Francisco Rocha, o Chico Rosa, um dos 22 irmãos do vereador-presidiário eleito.

A família é extensa, segundo ele, porque o pai era namorador. “Os 23 irmãos são de cinco mulheres que o velho teve”, explica Chico. Da enorme prole, seis estavam no fórum de Catolé da Rocha na última quarta-feira, acompanhando uma audiência sobre o processo do irmão. Acusado de pistolagem, tráfico de armas e drogas, o vereador foi preso no dia 9 de maio realizando transações bancárias numa agência de João Pessoa durante uma operação do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Militar da Paraíba.

Para votar em 2 de outubro passado, Bira ganhou autorização judicial e chegou à sessão eleitoral escoltado, sob aplausos de populares, que gravaram um vídeo que viralizou nas redes sociais. “A consagradora votação de Bira foi uma resposta da sociedade de Catolé da Rocha à sua inocência”, diz o advogado João Estrela, contratado pela família para fazer a defesa do acusado.

Estrela é um dos mais famosos criminalistas da Paraíba, com larga e respeitosa experiência na política. Foi prefeito de Sousa, a cidade mais importante da região, um dos maiores colégios eleitorais do sertão do Estado, por três mandatos e sua filha, que também milita na política, já foi eleita vice-prefeita do município, estando hoje sem cargo eletivo. Após tantos anos na vida partidária e como gestor público voltou a percorrer os corredores do Poder Judiciário no mesmo ofício que o projetou na política.

Ele espera que o vereador seja solto em breve, sem passar por júri popular, porque sua prisão, segundo ele, não se sustenta. “Perdida no caso, a Polícia não comprova o envolvimento de Bira em nenhum dos crimes aos quais é acusado, sustentando a prisão apenas em suposições”, afirma o advogado. Entre os crimes em que é citado como mandante, o processo que está mais avançado diz respeito ao assassinato de João Alisson, ocorrido em Catolé da Rocha.

Também constam mais duas suspeitas de que o vereador eleito esteja envolvido nos crimes de Daniel Docinho e de dona Joelma, mãe de Alisson. “A polícia não tem uma só prova de que Bira seja mandante de crimes ou traficantes de armas e drogas”, acrescenta João Estrela, que aposta na liberdade do vereador até a sua posse, em 1 de janeiro. Se até lá isso não ocorrer, o parlamentar pode exercer o mandato da prisão.

“Não há nenhuma condenação do vereador em trânsito julgado. Por isso, mesmo estando preso por força de mandado de prisão, ele não perde os direitos políticos”, explica João Estrela. Mesmo sem ter informações do episódio, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, disse que a eleição de Bira envergonha os brasileiros e constrange a Justiça Eleitoral, já que, segundo o ministro, trata-se de um “traficante, que integra um grupo de extermínio”.

Já o secretário de Segurança Pública da Paraíba, Cláudio Lima, disse entender que o poder Legislativo deve aprovar leis para impedir que situações como esta aconteçam nas eleições. “Isso nos preocupa. Não podemos aceitar que o crime entre na política. Tem que ser o contrário”, afirmou.

Responsável pela prisão, o delegado Allan Murilo Terruel disse, na época, que foi uma ação importante para a região, porque o suspeito era temido e causava terror nas pessoas. “É ainda uma prisão sensível, por se tratar de um pistoleiro”, relatou após recolher o então candidato ao xadrez atendendo a um mandado de prisão temporária.

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