sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MEU OUVIDO PEDE MÚSICAS DO ARCO DA VELHA

ESCRITO POR MAGNO MARTINS.


Muitas vezes, quando não estou fazendo absolutamente nada, quebro a monotonia e preencho o vazio levando o meu ouvido para um mergulho em músicas do passado.

Meu pai ouvia Carmem Miranda, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, músicas que não me saem da memória, como Segredo, de Herivelto Martins e Marino Pinto.

Marchinhas de carnaval de grandes recordações. “O que é que a bahiana tem”, dizia o refrão de Carmem Miranda. “Mamãe eu quero” foi outro grande sucesso da pequena notável, cuja biografia devorei de um fôlego só.

Papai adorava também Noel Rosa, Francisco Alves (saudade do passado sabia de cor), Emilinha Borba e Chiquita Bacana de Braguinha.

Boleros clássicos e inesquecíveis, lembro-me de vários: Perfume de Gardenhã, de Rodrigo Otarola. E mais: Que queres tu de mim, Ainda ontem chorei de saudade.

De Altemar Dutra, que ele também era apaixonado: Ninguém é de ninguém, Velha Companheira, Malandrinha e Alguém me disse.

Outro gênero que lubrifica o ouvido, suaviza o coração e dá leveza a alma é o chorinho. E não dá para falar de chorinho no passado sem citar Pixinguinha, Waldir Azevedo, o grande Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth e Benedito Lacerda.

Meu pai se deleitava ouvindo Altamiro Carrilho, que era, na verdade, uma poesia de sopro com a sua flauta.

O samba também entra na roda. Grande Noel Rosa! Cartola, Braguinha, Martinho da Vila, Bezerra da Silva e tantos outros como Inezita Barroso e Jair Rodrigues.

No Brasil, samba é carnaval carioca do passado. Lá do Sertão, nos anos verdes de minha vida, a gente só associava o gênero ao deslumbrante carnaval do Rio.

Minha predileção por música não tem gêneros. Gosto, sinceramente, de todos, mas como a crônica é do fundo do baú, falo do que me dá recordações, não que seja deste tempo tão distante, mas inesquecível e adorável.

O problema é que não dá para ouvir, hoje, o que chega aos ouvidos dessa moçada.

Para mim, a música é poesia, um bálsamo para a alma, algo que nos transporta a um mundo de encanto e prazer. Aos mais jovens do que eu, que venham a ler esta crônica, reforço minha justificativa recorrendo a Rubem Alves:

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música.

Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes'

Quando ouço músicas do passado regresso ao mundo inefável que existe antes das palavras, ondem moram a perfeição e a beleza. A música produz silêncio, que leva à reflexão.

É por isso que existe a musicoterapia. A música dá alegria, é muito mais do que prazer. É superior ao prazer, porque tem o poder de transfigurar a tristeza.

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