segunda-feira, 30 de abril de 2012

BANCOS TÊM DE BAIXAR OS JUROS

Bancos têm de baixar os juros

Recife, segunda-feira, 30 de abril de 2012

O corte da taxa de juros iniciado pela Caixa Econômica Federal pode ser considerado um divisor de águas. O título de campeão mundial de juros altos parecia incorporado à natureza brasileira. De tão duradouro, deixou de causar perplexidade ou indignação. Passou a ser encarado com a naturalidade do suceder dos dias e das noites, da troca das estações do ano, da mudança das fases da Lua, da chegada da quaresma depois do carnaval.

Sem competição, as instituições financeiras funcionavam como cartel. Concorrência era palavra que não figurava em nenhum verbete de dicionários por elas conhecidos. O valor das tarifas, que poderia servir de diferencial, entrou também na espiral de elevação geométrica. Hoje, esse item cobre as despesas administrativas do setor.

A iniciativa da Caixa obrigou o segmento a mudar o rumo. Os grandes bancos, temendo perder clientes, anunciaram a redução do custo do crédito. Mas, como ensinou o escritor italiano Giuseppe Lampedusa, mudaram para ficar na mesma. Só reduziram as taxas das linhas mais competitivas. O governo, atento ao movimento, forçou o Banco do Brasil a ir além do marketing.

Com a ruptura no bloco monolítico, as instituições privadas, tímidas no passo adiante, terão de baratear as operações com pessoas físicas e jurídicas. Há espaço para quedas menos contidas. O spread bancário – diferença do custo da captação do dinheiro e da remuneração – é o segundo mais alto do mundo – nada menos de 34 pontos percentuais. Só fica atrás dos 70 pontos do Zimbábue, conforme levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Com exceção da Caixa, as instituições de crédito mantêm os encargos do cheque especial praticamente no mesmo patamar dos cobrados um mês antes do anúncio das quedas – entre 8% e 10%. Vale a comparação: na Caixa, os juros médios dessa linha de crédito passaram de 8,05% em 14 de março para 5,09% em 10 de abril, segundo dados consolidados pelo Banco Central.

Os últimos dias mostraram o quão atentos estão os consumidores. Eles retomaram velho e bom hábito dos tempos de inflação. Pesquisam. Em vez de preços, correm atrás de juros baixos. E não aceitam mais a condição de reféns da extorsão institucionalizada. Está mais fácil do que nunca trocar de banco. Portanto, as instituições que não quiserem perder mercado, que efetivamente baixem os juros. Em tempos de estabilidade econômica, com a inflação apontando para baixo e o Banco Central cortando a taxa básica (Selic), está muito claro quem respeita o cliente. O Brasil mudou. Os bancos também precisam mudar.

OPINIÃO - DIARIO DE PERNAMBUCO

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