quarta-feira, 28 de março de 2012

O JABUTI TOMOU CONTA DA ÁRVORE


Foto Google



O colunista do JC Fernando Castilho resolveu, mais uma vez, dar uma valiosa contribuição ao Blog de Jamildo. Para tanto, escreveu uma fábula, reproduzida abaixo.

O jabuti tomou conta da árvore


Por Fernando Castilho*

(Qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos terá sido mera coincidência. Ou não.)

Era uma vez um jabuti. Casca grossa, tarefeiro e fiel escudeiro de uma raposa que ao longo da vida lhe encarregou de tarefas menores, como cuidar de um diretório municipal, organizar a eleição na floresta e conversas com os membros do Orçamento Participativo para que ela brilhasse felpuda.

Certo dia a raposa chamou o jabuti e disse: companheiro você vai ser o candidato de nosso grupo para tomar conta da floresta. O jabuti olhou desconfiado para a raposa e disse. "Companheira raposa, essa tarefa é muito grande para mim. Eu sempre cuidei da retaguarda, não posso ir para linha de frente. Além disso, eu não sei subir em árvore. Sempre ajudei você a ficar nesse lugar".

"De forma alguma, companheiro jabuti. Eu vou colocar você na árvore e você vai se sair muito bem E, além disso, vou estar por perto. Ficaremos tranquilos juntos e poderemos tomar conta da floresta por muitos anos", disse a raposa.

"Companheira raposa você sabe que haverá resistências...

"Fique tranquilo companheiro jabuti, vai dar tudo certo: Formaremos uma bela e duradoura aliança. E lembre-se eu estarei sempre por perto.

Veio a festa da preparação da eleição e a raposa viu que dois outros bichos estavam de olho no lugar do jabuti. O galo, que comandava o galinheiro, e o pavão que era ligado ao galo e queria disputar o lugar.

Não houve acordo. A raposa fincou o pé. E não abriu nem mesmo quando o leão veio a sua casa e, ao lado da onça, que seria substituta no trono, lhe pediu em favor do galo.

"Companheira raposa, disse o leão, estou aqui ao lado de nossa companheira onça para lhe fazer um apelo em favor do nosso companheiro galo. Ele une o partido e vai ser fiel a você. O companheiro jabuti vai dar trabalho para a gente colocar na árvore.

"De forma alguma companheiro leão. Acho que a unidade está com o jabuti".

Veio a eleição e o jabuti venceu. Foi uma grande festa na floresta. Mas no dia seguinte a posse, a raposa ligou para o jabuti e disse: Vem aqui!

Constrangido, o jabuti olhou para baixo e com ajuda de amigos desceu e foi ao encontro. Na semana seguinte, depois que estava se acomodando na árvore novo telefonema: companheiro jabuti vem aqui em baixo da árvore!

E lá se foi o jabuti de novo. Até que na terceira vez o jabuti olhou para baixo e disse: não vou. E esqueceu o chamado.

Debaixo da árvore a raposa entendeu que subestimara o jabuti. Ele tinha aprendido a subir na árvore, embora ainda não soubesse se manter bem entre os galhos. Mas agora era ele quem comandava a floresta.

O tempo passou, a raposa passou a se queixar do jabuti no galinheiro e na floresta.

O jabuti preferiu não peitar o velho líder e foi se ajeitando na árvore. Até que veio a primavera e se anunciou de novo a eleição na floresta.

Animada, a raposa correu pelos campos dizendo que deveria ser escolhida. Era a preferida da bicharada e não havia razão para não ser de novo a líder.

Ressabiado, o galo que fora preterido na eleição anterior mandou a avisar:

- Na raposa eu não voto.

Com essa recusa clara do galo, o pavão que tinha arranjado um lugar noutro jardim reuniu seus amigos do galinheiro e disse vou peitar o jabuti. Ele está desgastado e não vai ter como juntar os bichos.

E avisou a floresta que iria disputar o lugar do jabuti causando um agrande alarido.

Foi aí que o jabuti decidiu tirar satisfações e quase pega na sua jugular.

- Você está me desrespeitando companheiro pavão. Onde já se viu um partido no poder fazer uma disputa interna? Tenho direito de ser o candidato. Veja, por exemplo, lá na floresta do Norte. O gavião negro está no poder e só tem disputa de prévia no grupo dos falcões. O pavão ouviu calado. mas disse que ia para a disputa e saiu exibindo suas cores reluzentes.

Preocupado e sentindo-se só, o jabuti decidiu procurar os líderes da floresta do outro lado do rio.

Conversou com o falcão que lhe prometeu apoio, mas não declarou que ele seria o candidato. Só a experiente coruja que continuava sendo conselheira do leão assegurou que ele poderia voltar para a árvore que ele seria o candidato.

Mas nem o jabuti nem o pavão, nem o galo e nem os outros bichos da floresta agora tinham certeza de que isso valeria mesmo. Nunca na história do galinheiro quem tinha conquistado um cargo no poleiro não poderia deixar de ser candidato à reeleição. Esse era o fato novo na floresta.

Além disso, o pavão já estava se cercando de apoio outros bichos como as hienas, os lobos e as cobras. Por outro lado, a oposição mesmo desarrumada observava a briga na porta da entrada da floresta e fazia planos. O elefante, por exemplo, avisou que queria um novo nome, o macaco apoiou e saiu pela floresta defendendo a tese. E tinha outro fato importante: o tigre que comandava o jardim onde o pavão estava agora de novas conversas com o leão e observava a tudo.

E assim, enquanto a festa não chegava, a vida na floresta continuava sem que ninguém estivesse preocupado com a briga do bichos.

Moral da história. Jabuti não sobe em árvore. Portanto se você colocar um lá é bom saber que o bicho pode aprender o caminho e não querer sair dela tão cedo.

FERNANDO CASTILHO é jornalista, assina a Coluna JC Negócios, no Jornal do Commercio e escreve textos para crianças nas horas vagas.


Do Blog do Jamildo

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