sábado, 26 de novembro de 2022

Cidades em alerta pela suspensão da Operação Carro-Pipa no Nordeste


Mais uma vez o Programa Emergencial de Distribuição de Água, conhecido como Operação Carro-Pipa, sofre com suspensão de repasses do governo federal. O problema que já havia ocorrido em março de 2021 volta agora, no fim de 2022.

Nessa quinta (24), inclusive, dez senadores de oposição do Governo Bolsonaro, entre eles o pernambucano Humberto Costa (PT-PE), acionaram o Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para que a Operação Carro-Pipa seja retomada. Eles também cobram que seja feita uma investigação sobre os motivos que levaram à suspensão. As informações são do Jornal do Commercio.

Reportagem do colunista Carlos Madeiro, do UOL, expôs que o programa, responsável por levar água potável a 1,6 milhão de nordestinos, foi interrompido pelo governo federal em novembro.

“Os fatos apontados na matéria compõem uma situação que demanda a mais pronta intervenção dos órgãos de controle sobre a administração pública, porque se afigura iminência de morte se essa população seguir desassistida da entrega de água potável, cabendo ponderar que nesse contexto as vulnerabilidades se somam: além do não acesso a bem imprescindível ao viver, há, nesse contingente, crianças, idosos, gestantes, pessoas com doenças graves”, afirmam os parlamentares.

Carro-pipa

A operação Carro-Pipa é financiada com recursos do Exército Brasileiro em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Ambos confirmaram ao UOL que a suspensão ocorreu por falta de verbas para continuidade. O MDR diz que alertou o Ministério da Economia sobre a falta de recursos.

“As necessidades de recursos adicionais foram formalmente encaminhadas ao Ministério da Economia, para que seja possível retomar, o quanto antes, a operação”. Ainda de acordo com o MDR, a operação Carro-Pipa atendeu a média mensal de 455 municípios.

O programa é executado há cerca de 20 anos em toda a região rural do Semiárido, abrangendo os estados do Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo.

Em Pernambuco, mais de 500 mil pessoas são afetadas nas 105 cidades que estão aptas para receber água da operação. Em Taquaritinga do Norte, no Agreste do Estado, a Secretária de Agricultura informou que o fornecimento de água já foi interrompido.

Em entrevista à Rádio Jornal, o secretário de Agricultura da cidade, José Pereira Coelho, conhecido como Zeca, pediu sensibilidade por parte do governo federal e disse que a situação é de calamidade.

“É uma situação grave, estamos sem saber o que fazer. Essa água chega e imediatamente são abastecidos esses pontos. Isso foi suspenso, a coisa ficou em situação de calamidade. Apelamos para que o governo federal tenha sensibilidade e atenda a população, com essa falta de água que existe no município”, disse o secretário.

Especialista em saneamento e ex-presidente da Compesa, Roberto Tavares explica que a população mais pobre é a principal afetada pela suspensão dos recursos.

“É preciso seguir com o abastecimento até que iniciativas mais concretas sejam viabilizadas na região. Temos uma obra de infraestrutura, que é a transposição do Rio São Francisco, uma obra pensada há cem anos, que vai resolver o problema, desde que continuem os investimentos. Sempre precisa de complemento. Temos uma população difusa, que não tem tubulação chegando em casa, que precisa do carro-pipa. Essa operação deveria ser complementar aos sistemas de distribuição de água. Quando se fala em cortar recurso, nos preocupa, pois afeta a população mais pobre, que não tem como pagar por carro-pipa”, explicou Tavares.

Por meio de nota, a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) lamentou a decisão do governo federal em cortar recursos da operação Carro-Pipa. “Foi justamente em um dos períodos mais secos do ano que a União decidiu não garantir um direito universal humano: o acesso à água. Em Pernambuco, 529 mil pernambucanos de 105 municípios ficarão sem água potável”, afirma a entidade.

Ainda de acordo com a Amupe, as associações de municípios do Nordeste já estão em contato com a Confederação Nacional de Municípios (CNM) para viabilizar uma audiência com o Ministério do Desenvolvimento Regional, “a fim de reverter essa situação caótica que afeta o desenvolvimento humano e econômico das regiões atingidas”.

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