Reportagem do colunista Carlos Madeiro, do UOL, expôs que o programa, responsável por levar água potável a 1,6 milhão de nordestinos, foi interrompido pelo governo federal em novembro.
“Os fatos apontados na matéria compõem uma situação que demanda a mais pronta intervenção dos órgãos de controle sobre a administração pública, porque se afigura iminência de morte se essa população seguir desassistida da entrega de água potável, cabendo ponderar que nesse contexto as vulnerabilidades se somam: além do não acesso a bem imprescindível ao viver, há, nesse contingente, crianças, idosos, gestantes, pessoas com doenças graves”, afirmam os parlamentares.
Carro-pipa
A operação Carro-Pipa é financiada com recursos do Exército Brasileiro em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Ambos confirmaram ao UOL que a suspensão ocorreu por falta de verbas para continuidade. O MDR diz que alertou o Ministério da Economia sobre a falta de recursos.
“As necessidades de recursos adicionais foram formalmente encaminhadas ao Ministério da Economia, para que seja possível retomar, o quanto antes, a operação”. Ainda de acordo com o MDR, a operação Carro-Pipa atendeu a média mensal de 455 municípios.
O programa é executado há cerca de 20 anos em toda a região rural do Semiárido, abrangendo os estados do Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo.
Em Pernambuco, mais de 500 mil pessoas são afetadas nas 105 cidades que estão aptas para receber água da operação. Em Taquaritinga do Norte, no Agreste do Estado, a Secretária de Agricultura informou que o fornecimento de água já foi interrompido.
Em entrevista à Rádio Jornal, o secretário de Agricultura da cidade, José Pereira Coelho, conhecido como Zeca, pediu sensibilidade por parte do governo federal e disse que a situação é de calamidade.
“É uma situação grave, estamos sem saber o que fazer. Essa água chega e imediatamente são abastecidos esses pontos. Isso foi suspenso, a coisa ficou em situação de calamidade. Apelamos para que o governo federal tenha sensibilidade e atenda a população, com essa falta de água que existe no município”, disse o secretário.
Especialista em saneamento e ex-presidente da Compesa, Roberto Tavares explica que a população mais pobre é a principal afetada pela suspensão dos recursos.
“É preciso seguir com o abastecimento até que iniciativas mais concretas sejam viabilizadas na região. Temos uma obra de infraestrutura, que é a transposição do Rio São Francisco, uma obra pensada há cem anos, que vai resolver o problema, desde que continuem os investimentos. Sempre precisa de complemento. Temos uma população difusa, que não tem tubulação chegando em casa, que precisa do carro-pipa. Essa operação deveria ser complementar aos sistemas de distribuição de água. Quando se fala em cortar recurso, nos preocupa, pois afeta a população mais pobre, que não tem como pagar por carro-pipa”, explicou Tavares.
Por meio de nota, a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) lamentou a decisão do governo federal em cortar recursos da operação Carro-Pipa. “Foi justamente em um dos períodos mais secos do ano que a União decidiu não garantir um direito universal humano: o acesso à água. Em Pernambuco, 529 mil pernambucanos de 105 municípios ficarão sem água potável”, afirma a entidade.
Ainda de acordo com a Amupe, as associações de municípios do Nordeste
já estão em contato com a Confederação Nacional de Municípios (CNM)
para viabilizar uma audiência com o Ministério do Desenvolvimento
Regional, “a fim de reverter essa situação caótica que afeta o
desenvolvimento humano e econômico das regiões atingidas”.
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