quinta-feira, 29 de março de 2018

Lula virou o principal cabo eleitoral de Bolsonaro




Josias de Souza




De todas as declarações que Jair Bolsonaro cosuma fazer, a mais inverídica é justamente a que ele mais repete: “Eu quero Lula em cana”. Em verdade, a prisão de Lula é o que Bolsonaro menos deseja. Condenado e inelegível, Lula radicalizou o discurso, isolando-se à esquerda. Bolsonaro, um ex-capitão do Exército de ideias ultraconservadoras, faz da aversão a Lula sua principal plataforma. Entre um extremo e outro, proliferam as candidaturas que não conseguem empolgar o pedaço do eleitorado que foge do radicalismo.

Por uma conveniência mais penal do que eleitoral, Lula mantém sua candidatura na rua mesmo sabendo que ela deve ser formalmente barrada pela Justiça Eleitoral entre o final de agosto e início de setembro. E Bolsonaro acende uma vela para o Supremo Tribunal Federal, rezando para que a maioria das togas defira em 4 de abril o pedido de Lula para não ser preso. Atrás das grades, Lula poderia apressar o lançamento de Fernando Haddad. E o Plano B do PT esvaziaria 50% da doutrina de Bolsonaro. A outra metade é feita de apelos do tipo “bandido bom é bandido morto.”

Pela lógica, o protagonismo radical de Lula e Bolsonaro diminuiria na proporção direta do crescimento do drama penal de um e da superexposição do outro. A aversão que ambos despertam no pedaço do eleitorado que foge dos extremos faria emergir uma alternativa no mar de candidaturas que ocupam o centro. Mas o centro permanece entre oco e apodrecido. O Supremo concede uma sobrevida a Lula, que impulsiona Bolsonaro. E o envenenamento da atmosfera política brasileira bloqueia qualquer discussão consistente sobre um projeto para o país.

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