segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DE DOM BERNARDINO MARCHIÓ - O CÉU, A TERRA OU O INFERNO?

O Evangelho nos conta que havia um rico que se vestia de linho e púrpura e linho finíssimo e que todos os dias se banqueteava… E havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta o rico… (Lc 16,19).


Dom Bernardino Marchió
Bispo Diocesano

Quem não conhece essa parábola? Que não viu de perto realidades parecidas? Que não se escandaliza perante o sofrimento de milhões de pessoas, fruto de injustiças e do egoísmo humano? Mas esse é o mundo em que vivemos, onde existe um verdadeiro abismo entre os grupos sociais, passando da extrema e escandalosa miséria, até chegar à abundância, ao esbanjamento e ao desperdício, que tem provocado indignação e clamado por soluções construtivas.

Lázaro, o pobre de outrora e de sempre, assim como o rico Epulão, continua presente e incômodo, quando a parábola é contada por Jesus. Mas o céu, com seu modo de viver baseado na comunhão e na partilha, está bem perto de nós. Antes de pôr o dedo na ferida da desigualdade e da injustiça presentes em nosso tempo, faz bem olhar ao nosso redor e identificar onde se encontram experiências diferentes, nas quais o céu desce à terra. Perto e dentro de nós, existem gestos de comunhão, gente de coração generoso, sensibilidade diferente à fraternidade. Penso em tantas iniciativas tomadas por pessoas e grupos, como as tantas obras sociais da Igreja ou de outras instâncias da sociedade, nas quais se superam as distâncias e a fraternidade se instala. E quantas são as pessoas tocadas pela força da palavra de Deus e hoje mais fraternas e sensíveis às necessidades dos outros, capazes de acolher os outros e proporcionar-lhes caminhos novos de promoção e autonomia.

É desafiadora a missão que Deus nos confiou: é o compromisso pessoal que cada um deve dar! Mas não basta!

Há muitos que podem oferecer outras coisas! Quem tem responsabilidades públicas, à frente de organismos da sociedade, pode aguçar sua sensibilidade e priorizar ações correspondentes aos valores da dignidade humana e proporcionar maior respeito às pessoas, especialmente aos mais necessitados. Há muita cara fechada e muita burocracia a serem superadas nas repartições públicas. Muitas filas podem diminuir se crescer a boa vontade. Há projetos em vista do bem comum a serem implantados, vencendo interesses corporativos que emperram a vida dos cidadãos. Existe um caminho de conversão adequado para as pessoas que detêm cargos eletivos, quem sabe, inscritos até nos discursos bonitos da campanha eleitoral! Há mãos a serem lavadas na água pura da fonte da vida!

Tudo isso será possível se os valores que norteiam o comportamento tiverem referências diferentes. Se o nosso ídolo é o dinheiro, é claro que estaremos enveredando os caminhos do inferno. Se a nossa luz for o Deus que nos criou para a vida plena, estaremos construindo o paraíso já aqui na terra!
Do Jornal de Caruaru

Nenhum comentário:

Postar um comentário