segunda-feira, 6 de março de 2023

A Revolução Pernambucana


Por José Paulo Cavalcanti Filho*

Nesta segunda, 6 de março, celebramos nossa Data Magna. A da Revolução Pernambucana de 1817. Para entender isso melhor, voltemos ao passado. Para lembrar que aqui se deram os primeiros movimentos pela independência do Brasil.

A reação, contra a Coroa Portuguesa, ocorreu a partir de ideias iluministas propagadas no Seminário de Olinda (por isso também chamada Revolta dos Padres) e pelas sociedades maçônicas, logo disseminando-se pela sociedade.

A insurreição, projetada para ocorrer um mês depois, na Semana Santa (junto com Bahia e Rio), foi antecipada pela tomada do Forte do Brum. E se deu quando o capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado (por conta de sua calvície, em forma de coroa, com longos cabelos nos lados, mais parecendo uma juba), sacou de sua espada e varou, de um lado a outro, a barriga (o buxo, assim está nos livros) do comandante português Manuel Joaquim Barbosa de Castro, que lhe havia dado voz de prisão, cumprindo ordens do governador Caetano Pinto Montenegro – desse Caetano que o povo dizia ser pinto na coragem, monte na altura e negro nos sentimentos.

Durante 74 dias (75, para outros), Pernambuco viveu a sina de ser independente. Livre. Um governo provisório chegou a ser instalado. Tinha bandeira (a mesma de hoje, com três estrelas em vez de uma), Constituição e forte regionalismo; passando-se, nas missas, a usar hóstias de mandioca e cachaça em lugar do vinho.

Seguindo-se uma repressão sangrenta. Nove líderes, em Pernambuco (entre eles, o Vigário Tenório e o Leão Coroado) acabaram condenados pelo crime de lesa-majestade. Em 10/07/1817 foram enforcados, sendo seus corpos esquartejados e arrastados, por cavalos, pelas ruas do Recife, como sinal de que insurreições não seriam toleradas pela Coroa portuguesa.

Mas não ficou só nesse episódio, nosso irredentismo. Em 1821, com a Convenção de Beberibe, Pernambuco veio a ser a primeira província brasileira a formalmente se separar do Reino de Portugal, 11 meses antes da Proclamação da Independência. Fosse pouco, em 1824, tivemos a Confederação do Equador. Um movimento republicano que questionou a Constituição de 1824. Seus líderes foram enforcados ou fuzilados. Entre eles Frei (Joaquim do Amor Divino) Caneca. Condenado à forca, todos os carrascos se recusaram a cumprir sua execução; mas, ordens são ordens, e acabou fuzilado em patíbulo armado no Forte das 5 Pontas.

Por fim, em 1848, mais um evento federalista, a Revolução Praieira, com os revolucionários presos sendo anistiados mais tarde, em 1851. Marco Maciel, a quem tive o privilégio enorme de suceder na Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, em seu discurso de Posse na Câmara dos Deputados, afirmou: “Espero finalmente, nesta Casa, continuar honrando as tradições de Pernambuco, que irrigou com o sangue de heróis e mártires as virtudes cívicas de nossa gente”. Honrou, com certeza. Viva Pernambuco.

P.S. Só para lembrar, uma historinha (não sei de quem é) que começa no Vaticano. Quando um turista daqui viu, na Catedral de São Pedro, telefone dourado com a placa “Ligação direta com o Paraíso, preço 100 dólares”. Voltando ao Recife, na Igreja do Carmo, estavam o mesmo telefone, a mesma placa e uma só diferença – o preço, agora de 25 centavos. Então perguntou, a um padre: Qual a razão? E a resposta foi: Lá tem DDI, que é caro; e aqui, em Pernambuco, é ligação local.

*Advogado e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)

Nenhum comentário:

Postar um comentário