terça-feira, 14 de março de 2023

A casa dos bons estudantes

 Aacasa do Estudante de Pernambuco de grandes serviços prestados,  aos estudantes do interior do estado, tendo proporcionado e assim segue nos dias atuais. Veja o que conta Magno Martins.

Por Aldo Paes Barreto*

O pernambucano de Surubim Lourenço da Fonseca Barbosa, mais conhecido como Capiba, vivia e respirava música. Seu pai, mestre de banda, educou os filhos sob a batuta de maestro e eles aprendiam o alfabeto ao mesmo tempo em que estudavam a escala musical.

Quando o jovem Lourenço Capiba terminou o secundário, prestou concurso para Banco do Brasil, passou e foi nomeado para o Recife. A transferência mudou sua vida e consolidou o encanto pela música.

Já ambientado na capital pernambucana, enturmou-se, fez novas amizades. Uma delas, com o acadêmico de Medicina, Ferreira dos Santos, lhe possibilitou musicar a poesia que o estudante tinha escrito para a formatura da Turma de Medicina, de 1931. A parceria resultou na “Valsa Verde”, que ganhou incontáveis gravações.

A música e jovens estudantes que tocavam algum instrumento colocaram Capiba diante de novo sonho: fundar uma orquestra; os rendimentos das apresentações seriam destinados a construir uma moradia para estudantes que vinham do interior de Pernambuco e de outros estados. Nasciam a Jazz Band Acadêmica e a Casa do Estudante de Pernambuco.

O grupo musical deu excelentes frutos e a Casa do Estudante ainda está produzindo. No início, a Jazz Band era integrada somente pelos acadêmicos. Capiba, maestro, arranjador, sax alto e piano, passou a estudar Direito; O futuro médico Evaldo Altino, um dos pioneiros da moderna Oftalmologia, em Pernambuco, tocava banjo; Vicente de Andrade Lima, médico, professor universitário renomado no Ceará, crooner, pistão e violino; Teófilo de Barros Filho, jornalista, advogado, transferido depois para o Rio de Janeiro, tocava violino; Lauro Casado, médico, professor, hoje nome de Escola e de Rua no Recife, instrumentos de sopro, Ivan Tavares, consagrado professor e cardiologista, tocava piano; Walter de Oliveira, médico, teatrólogo, professor de várias gerações, tocava bateria; Homero Freire, médico renomado, exímio no sax-alto.

A jovem orquestra pernambucana excursionava nas férias. No Pará, no Maranhão e no Ceará fez enorme sucesso nos primeiros anos da década de 1930 e, depois, no Rio de Janeiro, ao apresentar-se em Petrópolis e no Copacabana Palace, executando inclusive o nosso frevo. Na época, ainda contava com o futuro cientista, sanitarista e indigenista, Noel Nutels, ao piano; o crooner era Fernando Lobo; o estudante de Medicina e baterista, Abelardo Barbosa, ainda não tinha era o icônico Chacrinha.

Com as apresentações da Jazz Band Acadêmica e outras contribuições o terreno onde hoje funciona a instituição, no Derby, doação do Governo Carlos de Lima Cavalcanti – foi possível construir e manter por alguns anos a Casa dos Estudantes de Pernambuco. Em 1938, o prédio ficou pronto, e a inauguração aconteceu setembro.

Depois que a Jazz Band deixou de ser amadora, quando os integrantes começaram a seguir as próprias carreiras, a Casa do Estudante viveu maus momentos. Tempos de Penúria, dos xepeiros, situação salva aqui e ali pela Festa da Mocidade, que passou a gerir.

Hoje, quase centenária, a Casa vem cumprindo o seu papel de abrigo a estudantes determinados, sonho construído em pedra e cal pelos visionários de ontem. 

Por lá, passaram incontáveis jovens que se tornaram cidadãos bem-sucedidos. O ex-presidente da Philips para América Latina, Marcos Magalhães, veio de Sertânia para estudar Engenharia no Recife; o médico, escritor e ex-presidente da Academia Pernambucana de Letras, Waldênio Porto, morador da Casa e autor do livro “As Vinhas da Esperança – Memória de Um Xepeiro”.

O jornalista, professor e escritor Potiguar Matos, também foi xepeiro, assim como o advogado, ex-deputado e ex-secretário de segurança Pública, João Arraes; o também ex-deputado Vital Novaes, pai do atual deputado Rodrigo Novaes. E o advogado e o seguidor deste blog Roberto Moraes.

Eles e novos estudantes, que vêm obtendo destaques em cursos superiores do Recife, confirmam a certeza de que estudar é preciso, deixando para trás os tampos famélicos de xepeiro. E, hoje, quase ninguém lembra da irônica quadrinha, escrita nas encardidas paredes de então:

“Velha Casa do Estudante

Nunca mais eu vejo tu

Criei avizinhavre no dente

E teia de aranha no c…”

*Jornalista

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