segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Garanhuns impulsiona turismo  com vinhos e uvas que ouvem música  


Cidade das flores, do frio, que alavanca o turismo, e importante bacia leiteira do Agreste Meridional, Garanhuns já introduziu também entre suas facetas a cultura e o hábito saudável de degustar e produzir bons vinhos. A experiência, já consolidada em terras que antes só se via bois para corte e vacas leiteiras, tem a marca Vinícola Colinas.

Numa belíssima área, verdadeiro colírio para alguém que antes só entendia de olhos, o médico oftalmologista Michel Moreira, a vinícola se estende por 37 hectares. Dos seus parrerais, saem uvas para dois tipos de vinhos tintos e um para brancos. São Cabernet, Malbec e Petit Mouscat Grain.

A cada safra, uma ao ano, diferente do Vale do São Francisco, que produz o ano inteiro, Michel já produz seis mil garrafas de vinho, o que poderá ser duplicado quando aumentar as áreas de cultivo para 5,5 hectares, o que está bem próximo.

A uva, aprovada com selo da Embrapa, chegou a um padrão de qualidade com um detalhe que chama atenção, além do solo por excelência e a irrigação por gotejamento: crescem e ganham espessura ouvindo música, através de um sistema de caixas de som instalado no centro dos parrerais. Nunca havia falado que músicas clássicas tivessem uma ligação com o mundo agrícola também.

Mas a literatura garante que os vinhedos crescem com a música de Mozart durante 24 horas por dia. As composições escolhidas usam sempre os mesmos instrumentos: cordas e piano. As óperas e as grandes orquestras foram excluídas para não estressar as plantas.

O engenheiro agrônomo Francisco Mergulhão explica que a música ajuda a afastar insetos ou parasitas. Segundo ele, o professor Stefano Mancuso, pesquisador da inteligência das plantas na Universidade de Florença, concluiu um estudo que a vibração da música estimula a produção de polifenóis, substâncias responsáveis pelo gosto agradável e que dão ao vinho aquela característica saudável se consumido em pequenas doses.

Nesse clima, os visitantes aproveitam para conhecer as plantações e toda a propriedade. Aprendem sobre os vinhos produzidos na região com um guia, compram vinhos numa lojinha de apoio e ainda desfrutam da bebida ouvindo música ao vivo ao pôr do sol, num ambiente lindo e romântico, que lembra as vinícolas europeias.

O empreendimento deu um impulso ao turismo ecológico em Garanhuns, virou vitrine privada de um projeto desenvolvido por três entidades públicas com o objetivo de formar um novo terroir de produção de vinhos no Estado, a exemplo do que ocorreu no Vale do São Francisco, no Sertão, a partir da década de 60.

Quando comprou a propriedade em 2013, o médico cearense Michel Moreira só queria um lugar “friozinho” para viver com a família. Depois de fazer um curso básico de enologia, passou a alimentar o sonho de plantar uva e fabricar seus próprios rótulos.

Mas não fazia ideia por onde começar diante de um terreno descampado, até então dedicado à criação de animais. “Fui à unidade de Petrolina da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em busca de me informar se era algo possível”, diz. Não imaginava que a harmonização de interesses seria tão perfeita. 

Para sua felicidade, soube que tanto era viável como já estavam sendo dados os primeiros passos do cultivo em Brejão. No município próximo a Garanhuns, pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) testavam o desempenho das uvas viníferas e o seu potencial enológico em um campo experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

“Sou oftalmologista, mas não sabia que uva era mais complicado do que olho “, brinca Michel, com base no conhecimento já acumulado no Vale das Colinas. Na sua vinícola já são degustados três vinhos, dois tintos e um branco, respectivamente: Dona Elisa (malbec), Cabana do Vale (cabernet sauvignon) e Dona Cecília (muscat blanc à petits grains). Os rótulos homenageiam as filhas de Michel e o primeiro chalé da família na chácara.

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