segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Da coluna de Magno Martins


Postado por Magno Martins



Tudo ou nada para Dilma

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) usa, hoje, a tribuna do Senado, no terceiro dia de sessão do seu julgamento, como última cartada para salvar o seu mandato. Em relação ao tom do seu pronunciamento, o fato mais importante nesta fase final e definitiva, as opiniões das pessoas mais próximas à presidente estão divididas. Algumas defendem que ela faça uma manifestação em defesa da soberania popular e da Constituição, enquanto outras preferem que, além disso, direcione críticas mais contundentes ao presidente interino Michel Temer, à equipe ministerial e aos senadores que mudaram de lado.

O discurso já está pronto desde a semana passada, mas nos últimos dias que antecedem sua ida ao Congresso recebeu sugestões de aliados como os ex-ministros José Eduardo Cardozo (responsável pelo teor jurídico da fala e por preparar Dilma para os questionamentos dos senadores), Miguel Rossetto, Jaques Wagner e Aloizio Mercadante. As anotações foram aceitas e deixaram a sua fala mais contundente ainda.

“Trabalhamos com um cenário de reversão. O discurso será forte, histórico. Ficará ainda mais claro que a presidente não cometeu nenhum crime e está sendo substituída por um presidente interino e por ministros envolvidos em suspeitas de corrupção. Temer e sua equipe entram para a história como traidores”, disse, ontem, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), uma das aliadas mais fiéis da petista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também colaborou no sentido de que está em curso um golpe. Para Lula, “Temer, por ser um constitucionalista, sabe que se trata de um golpe”. A fala de Dilma deve ser centrada em pontos que já vêm sendo destacados por ela, como a defesa de que não cometeu crime de responsabilidade e que não pode ser julgada pelo "conjunto da obra" do seu governo — expressos na carta apresentada aos senadores.

A ida de Dilma ao Senado é encarada como o episódio mais importante do julgamento. "Este é o fato novo do processo. Todos já conhecem o depoimento das testemunhas", disse o senador Reguffe (sem partido-DF), ao falar sobre a presença da petista no plenário. Dilma terá 30 minutos pra se manifestar, com o tempo podendo ser prorrogado a critério de Lewandowski. Depois, cada senador terá dez minutos para questioná-la.

“É imprevisível o que poderá acontecer”, comentou o senador José Agripino (DEM-RN). Na visão do presidente nacional do DEM, porém, não deve ocorrer mudança de placar. Ou seja, que será repetido o placar das outras votações, todos desfavoráveis a Dilma. “Não terei a ousadia de pré-estabelecer (o resultado), mas a tendência pelo pronunciamento dos demais senadores é que isso será mantido, tem sido a rotina nas outras votações”, acrescentou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Na visão dele, Dilma "deve explicações ao Brasil". E tende a usar seu pronunciamento para “minimizar os danos” que ela teria causado durante seu governo. Em encontro, ontem, no Palácio da Alvorada, senadores aliados de Dilma simularam perguntas que a base governista de Temer deve fazer a ela. E reforçaram que a presença dela reforça a linha de argumentação usada pelos senadores de PT, PCdoB e PDT durante toda a discussão do impeachment no Senado.

O TOM DA SESSÃO – Para o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, quem dará o tom da sessão de hoje no terceiro dia de julgamento de Dilma será ela própria. “Obviamente, ela dará o tom. Esperamos que seja um tom à altura desse momento difícil por que passar o Brasil. Não é um momento de festa, nem para aqueles que apoiam o impeachment. Sabemos que um processo como esse deixa traumas, não apenas no Congresso, mas na própria sociedade. Mas estou confiante de que teremos uma sessão histórica à altura desse momento e à altura do que os brasileiros esperam tanto dos seus representantes quanto da presidente afastada”, afirmou.

Angu da mesma cumbuca – Em discurso, ontem, no comitê do candidato do PSB a prefeito de Olinda, Antônio Campos, a ex-senadora Marina Silva, presidente nacional da Rede de Sustentabilidade, afirmou que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff é justo, mas bateu duro também no presidente interino Michel Temer (PMDB). “Dilma e Temer são farinha do mesmo saco, angu da mesma cumbuca”, disse, numa referência à operação Lava Jato, que pegou tanto o PT como o PMDB. Para ela, o impeachment é legal, mas não cumpre com a finalidade de passar o Brasil a limpo.

Antes da fala, manifestação– Antes de entrar, hoje, no Senado, para apresentar a própria defesa, cuja sessão está marcada para iniciar às 9 horas, a presidente afastada Dilma Rousseff deve fazer uma rápida fala para manifestantes contrários ao impeachment na Esplanada dos Ministérios, em companhia de Lula. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) está programando colocar militantes tanto na Esplanada, como também um pequeno grupo na entrada do Palácio da Alvorada, residência de Dilma, mas já avisou que está sem dinheiro para fazer uma grande mobilização e garantir uma vigília durante toda a segunda-feira.

Viagem como presidente–O presidente em exercício Michel Temer já avisou que não descarta atrasar em algumas horas a viagem para a China, caso a sessão do impeachment se estenda pela noite da próxima quarta-feira e entre pela madrugada da quinta. A previsão inicial é de que Temer viaje amanhã em missão oficial para a Cúpula do G20. Segundo um interlocutor de Temer, ele só viajará depois de assinar o termo de posse, caso Dilma seja cassada definitivamente. "Temer quer viajar como presidente de fato, e não como presidente em exercício. Isso porque quer passar confiança e legitimidade para investidores e governantes", disse um auxiliar do presidente.

Uma super cobertura– 
Sessenta e dois profissionais de imprensa de 13 países fazem a cobertura do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, segundo balanço feito pela assessoria de imprensa do Senado até a sexta-feira passada dos jornalistas credenciados de órgãos de comunicação estrangeiros. O balanço da assessoria do Senado não considera os veículos internacionais que já cobrem diariamente as atividades parlamentares no Congresso. A expectativa é que esse número aumente hoje, dia em que Dilma comparece ao Senado para fazer um pronunciamento e ser interrogada pelos senadores. Já enviaram repórteres a Brasília nesta semana 12 canais de televisão, seis jornais impressos, cinco agências de notícias, três emissoras de rádio e uma revista. São jornalistas de Alemanha, Argentina, China, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Japão, Portugal, Catar, Reino Unido, Turquia e Venezuela.

CURTAS

DIVISÃO– Aliados da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) divergem sobre o uso dos termos "golpe" ou "golpista" no pronunciamento que ela fará, hoje, da tribuna do Senado, com previsão de duração de 30 minutos, prorrogáveis por período indeterminado a critério do presidente da sessão, ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para uns, o termo golpe pode ferir os senadores e subtrair mais votos ainda, mas ele deve usar sim o adjetivo atendendo aos que defendem uma fala mais dura.

VISÃO DE HUMBERTO– Um dos que defendem o tom mais “duro” no discurso de Dilma, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, avalia que a presidente afastada precisa resistir e não cair em possíveis “provocações” de parlamentares favoráveis ao impeachment. Ele disse também acreditar que Dilma não deve “elevar o tom”, fazer acusações contra senadores, apontar eventuais envolvimento deles em casos de corrupção ou chamá-los de “golpistas”.

Perguntar não ofende: E hoje, Dilma arrasa ou fracassa?

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