Postado por Magno Martins
A polêmica gerada por uma planilha de doações de dinheiro para financiar a campanha de 200 políticos, entre os quais 16 de Pernambuco, encontrada pela Polícia Federal na última operação Lava Jato, tencionou ainda mais o cenário nacional e deixou Brasília perplexa. Para medalhões que estão sendo crucificados, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a lista caiu como um presente do céu.
Cunha chegou a comemorar, porque na relação aparecem políticos que têm cobrado uma posição mais célere do Congresso em relação à sua cassação. Os documentos relacionam nomes da oposição e do Governo, mas não podem ser considerados como prova de que houve dinheiro de caixa 2 da empreiteira para os citados.
São indícios que serão esclarecidos no curso das investigações da Lava Jato. É o mais completo acervo do que pode ser a contabilidade paralela descoberta e revelada pela força-tarefa da Operação Lava Jato. As planilhas estavam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura, e conhecido no mundo empresarial como “BJ''.
Como eram de uma operação de um mês atrás e só foram divulgados públicos ontem pelo juiz federal Sérgio Moro, os documentos acabaram não sendo mencionados no noticiário sobre a Lava Jato. A maior parte do material é formada por tabelas com menções a políticos e a partidos. Várias dessas planilhas trazem nomes, cargos, partidos, valores recebidos e até apelidos atribuídos aos políticos.
Algumas tabelas parecem fazer menção a doações de campanha registradas no TSE. Há CNPJs e números de contas usadas pelos partidos em 2010, por exemplo. Parte significativa da contabilidade se refere à campanha eleitoral de 2012, quando foram eleitos prefeitos e vereadores.
Em 2012, a Construtora Norberto Odebrecht doou R$ 25.490.000 para partidos e comitês de campanha e apenas R$ 50 mil para uma candidatura em particular –a de Luiz Marinho, candidato do PT à Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP). Em 2014, a soma de doações da construtora foi de R$ 48.478.100, divididos entre candidaturas individuais e comitês dos partidos. Em 2010, o total foi de R$ 5,9 milhões, apenas para partidos e comitês de campanha.
Mendonça Filho (DEM), que aparece na planilha com uma doação de R$ 100 mil e Jarbas Vasconcelos Filho (PMDB), filho do deputado Jarbas Vasconcelos, com igual valor, se encarregaram de esclarecer de imediato que todas as doações para suas campanhas foram legais e suas referidas prestações de contas aprovadas pela justiça eleitoral.
Na verdade, não é novidade político receber ajuda de empreiteiras. O que precisa ser esclarecido – e isso cabe ao juiz Sérgio Moro e a Polícia Federal – é a origem do dinheiro, se houve caixa dois ou doação oficial. Se a grana saiu do mesmo propinoduto, descoberto pela operação Lava Jato, o caso é grave e os políticos de oposição citados se complicam. Mas se as doações foram legais e devidamente registradas, como manda a lei eleitoral, não há razão de ninguém citado ficar preocupado com os desdobramentos do caso.
SUPOSTAS AMEAÇAS– O Ministério da Justiça informou, ontem, por meio de nota, que determinou à Polícia Federal (PF) a abertura de inquérito para investigar supostas "instigações e ameaças" a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda de acordo com o comunicado, o Ministério ofereceu ao Supremo reforço na "segurança institucional e pessoal" dos ministros da Corte. A nota diz que a oferta foi motivada pela "perturbação do sossego e da necessidade de garantir a integridade física e moral" dos magistrados, além de "afastar tentativa de intimidação".
Próximo de uma decisão–
Sem delação– O Ministério Público Federal (MPF) emitiu nota, ontem, em que afirma não haver qualquer negociação sobre acordos de delação com executivos ligados à construtora Odebrecht. Na terça-feira (22), a empresa divulgou uma nota, em que expressa a vontade de colaborar com a Operação Lava Jato. No entanto, segundo os procuradores, a mera vontade não é suficiente para suspender as investigações contra o grupo. A empresa informou fará uma “colaboração definitiva” com a Justiça. A Odebrecht informou que a decisão foi tomada pela diretoria do grupo, em uma reunião terça-feira passada.
A lista– São os seguintes os políticos pernambucanos citados na planilha da Odebrecht: Armando Monteiro Neto (PTB), Betinho Gomes (PSDB), Bruno Araújo (PSDB), Daniel Coelho (PSDB), Eduardo Campos (PSB – falecido), Elias Gomes (PSDB), Ettore Labanca (PSB), Fernando Bezerra Coelho (PSB), Geraldo Júlio (PSB), Humberto Costa (PT), Jarbas Vasconcelos Filho (PMDB), Mendonça Filho (DEM), Pedro Eugênio (PT – falecido), Raul Jungmann (PPS), Severino Branquinho (PSB) e Vado da Farmácia (PSB)
Falando português claro –
CURTAS
FÔLEGO– Em uma conversa reservada, o ex-presidente Lula avaliou que a decisão de Teori de tirar momentaneamente da mira do juiz Sergio Moro a investigação sobre ele pode ter um efeito colateral dentro do PMDB. O entendimento é que, com a decisão do ministro, Lula ganha fôlego para tentar barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff
TENSÃO– No Congresso, ninguém ousa falar nada publicamente sobre a delação de Marcelo Odebrecht. Cada um guarda para si as preocupações. Mas que estão muitos com nervos à flor da pele, isso estão sobretudo depois da liberação da lista de 200 políticos que receberam doações da empreiteira.
Perguntar não ofende: Será que a tensão baixa em Brasília com o feriadão da Páscoa?
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