Postado por Magno Martins
O ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), foi protagonista de um episódio marcante no primeiro ano do Governo Joaquim Francisco. Extremamente ligado aos movimentos sociais, vindo da luta operária e do sindicalismo, João Paulo foi eleito deputado estadual nas eleições de 1990, depois de exercer mandato de vereador na capital.
João era a principal referência do PT, ao lado de Humberto Costa. Sua chegada à Assembleia Legislativa representava a ascensão política de um operário rumo ao poder, sonho que virou realidade nas eleições de 2000, quando derrotou o então prefeito Roberto Magalhães, que disputava a reeleição pelo PFL.
Tanto na Câmara do Recife quanto na Assembleia, João era o elo com os movimentos sociais. Com seis meses de mandato, o governador Joaquim Francisco teve que cumprir uma determinação judicial de retirada de famílias que lutavam pela posse de terra na comunidade Sítio Grande, de semblante miserável.
As famílias foram retiradas à força, porque resistiam sob a alegação de que teriam mais na frente o título da posse da área que era considerada uma invasão. Joaquim ordenou a retirada, mas não esperava o pior: a Polícia se excedeu e bateu até em políticos que saíram em defesa das famílias.
No conflito, deputados que faziam oposição na Assembleia, já sabendo logo cedo que as famílias seriam expulsas sob o rigor da lei, numa ação truculenta da Polícia, se envolveram para impedir o despejo. Entre os deputados mais destemidos, que enfrentaram a Polícia, Eduardo Campos, que era o líder da oposição, e João Paulo.
Foi ali, numa tarde de sol e calorenta, com toda a Imprensa pernambucana acompanhando a ação, que o deputado João Paulo passou por um dos momentos mais difíceis da sua vida. No enfrentamento físico com a Polícia, foi agredido e saiu de lá com três costelas quebradas e um dos pulmões perfurado.
Eduardo Campos foi um dos socorreram João Paulo, levando-o até o carro e em seguida para o hospital. No dia seguinte, diante da tremenda repercussão do episódio na Imprensa, e a confirmação de que o deputado petista havia quebrado três costelas e perfurado o pulmão, Joaquim resolveu visitá-lo no hospital.
Secretário de Imprensa, eu passava os boletins sobre o estado de saúde de João Paulo para Joaquim e com ele fui ao hospital. O gesto do governador, que havia derrotado todo o conjunto da esquerda em 90, aglutinada contra o seu Governo na Assembleia, pegou todo mundo de surpresa.
A oposição mais radical julgou como uma ação cínica, mas Joaquim tinha uma boa relação pessoal com João Paulo e estava inconformado com os excessos na ação por parte da Polícia. Eduardo Campos me contou depois que neste episódio teve uma costela trincada e disse que ficou impressionado com João Paulo.
“Ele teve muita coragem, foi para cima dos policiais com uma disposição de gigante”, contou. Até ao carro, onde o carregou nos braços, Eduardo lembrou, na mesma conversa, que João Paulo gemia de dor.
Como o tempo em política se encarrega de promover mudanças inacreditáveis, Eduardo com a força e o comando da ampla aliança que montou na sua reeleição em 2010, fez de Joaquim Francisco suplente de senador de Humberto Costa, hoje a principal liderança do PT com mandato, enquanto João Paulo, candidato a senador na chapa de Armando Monteiro, amarga a desilusão de político sem mandato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário