quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

PADRE VITO MIRACAPILO

  A segunda vez que subi no altar

Foto- Google Imagem


Já subi no altar que fica do lado esquerdo na igreja de Ribeirão, Zona da Mata Sul de Pernambuco, por conta do padre Vito Miracapillo.

Não foi pra rezar não. Nem pra casar, porque quando casei fiquei bem perto do altar, mas nem de longe disputei espaço com a santa na igreja, nada disso.

A segunda vez, subi literalmente no altar "armada" com uma cadeira para me defender de um grupo de plantadores de cana, que detestava o religioso italiano. E tentou impedir a concelebração da Arquidiocese de Olinda e Recife em protesto pela expulsão do padre, pedida pelo então deputado Severino Cavalcanti e decretada pela ditadura militar.

E o trabalho da imprensa, naturalmente, para que a truculência deles não chegasse às páginas dos jornais. Mas chegou.

É uma história hilária, hoje, quando a gente imagina jornalistas subindo num altar para poder trabalhar. Há 30 anos atrás quase vira uma tragédia.

Igreja lotada. Homens, mulheres, crianças, parecia que Ribeirão inteiro estava lá. E os jornalistas aguardando a missa. A concelebração foi presidida pelo Arcebispo Auxiliar de Olinda e Recife, dom Lamartine Soares e com ele mais dois padres.

A missa mal começou e chegaram os brutamontes. Empunhavam uma bandeira do Brasil com um imenso mastro, entraram cantando o Hino Nacional - alguns exibindo revólveres na cintura- e assim foram avançando pra cima dos celebrantes.

Gritos, correria, crianças pulando janelas, um horror. Quando os fornecedores de cana notaram que repórteres e fotógrafos estavam na igreja, partiram para amedrontá-los.

Repórter do Jornal do Brasil, subi no altar junto com a colega Luzanira Rego (onde estiver, tenho certeza, Luza vai dar risadas) e na maior moral avisamos: se alguém se aproximar vai levar uma cadeirada.

Poderíamos ter sido massacrados. Todos. Não fosse o delegado da cidade que chamou o feito à ordem, tirando os fornecedores de cana da igreja para que a missa fosse rezada.

A missa chegando ao fim, pensei rápido: se a gente não divulgar logo o que aconteceu, aquele fato tão grave ia ser censurado. Saí da igreja e entrei na primeira loja que encontrei em Ribeirão em busca de um telefone (isso mesmo, gente, não existia celular, computador, nada disso) e passei uma nota para a Rádio Jornal do Brasil.

A notícia explodiu como uma bomba e aí ninguém conseguiu mais censurar nada. Nem mesmo os poderosos plantadorores de cana que "brilharam" nas manchetes dos jornais de todo país no dia seguinte.

O padre Vito Miracapillo, expulso do Brasil há 31 anos por se recusar a celebrar uma missa em homenagem ao Dia da Independência, no município de Ribeirão, onde era pároco, está de volta a Pernambuco.

Novos tempos, padre Vito. Ainda bem. E amém.
 
Por Divane Carvalho

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