sábado, 12 de maio de 2012

SERTANEJO SOFRE COM A ESTIAGEM

DO DIARIO DE PERNAMBUCO.

Jailson da Paz

Agricultores são obrigados a usar água salobra porque com a seca, o líquido de boa qualidade desapareceu



O que restou do Riacho Canaã, em Triunfo. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS
A água doce virou artigo de luxo na casa da agricultura Maria Ivanete dos Santos, 37 anos. Há semanas, ela prepara os alimentos e toda a família - nove pessoas - toma banho com água salobra. A água de boa qualidade desapareceu de açudes, rios e riachos com a estiagem que assola Flores, no Sertão e distante 384 quilômetros do Recife. E o pior, lamenta a agricultora, a seca queima aos poucos os pés de feijão que resistem ao sol de verão em pleno período de chuvas. Flores integra a lista dos 78 municípios pernambucanos com situação de emergência decretada.

Na casa da agricultora, a água salobra chega graças à boa vontade de um vizinho que permite o acesso a um poço artesiano. Mesmo assim, Maria Ivanete não sossega. O poço deu sinais de que pode secar a qualquer hora. “Tirar uma lata d’água tem sido coisa trabalhosa”, lamenta. Banho tem que ser com pouca água. Difícil também tem sido lavar roupa. Maria Ivanete, ao menos uma vez por semana, vai ao Rio Pajeú. Ou melhor, anda até as poças que sobraram do curso d’água. O Pajeú está seco. Do mesmo modo, o Riacho do Tamboril.

A paisagem vista em Flores é a mesma nos municípios vizinhos. Em Triunfo, a 402 quilômetros da capital, poços estão secando. Raros açudes armazenam água. Os riachos, como o Canaã, mal lembram o que foram. O Canaã difere de outros pontos da caatinga apenas pelo capinzal que suga a umidade do solo e atrai o gado. “A água do riacho não parava de correr há cinco anos”, lamenta o motorista Sidney Rufino, 37.

O Riacho do Chinelo, em Carnaíba, está em situação idêntica. Como a barragem acima do riacho não sangrou, a água desapareceu. A última chuva forte foi no carnaval. De fevereiro até ontem, detalhou o agricultor Reginaldo Xavier, 45, “cai um sereninho aqui e acolá”. Tão pouca é a água que molha a terra.

Com os reservatórios secos, a aposentada Antonia Matos, 87, espera por carro-pipa. De Sertânia, distante 312 quilômetros da capital, ela compra água para beber. Paga R$ 10,00 por um tonel de 200 litros. Para atender pessoas como a aposentada, afirmou o diretor de Extensão Rural do Instituto Agronômico de Pernambuco, Genil Gomes, o governo contratou 800 carros-pipa. “Temos 625 rodando e outros já contratados”, diz. A maioria atende aos sertões do São Francisco e de Araripe, onde está mais seco. Dos 78 municípios em situação de emergência, 56 estão no Sertão, 22, no Agreste, e um, na Mata Sul.

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