quinta-feira, 3 de agosto de 2017

PSDB esconde seus líderes e enaltece parlamentarismo em propaganda na TV


Josias de Souza


Às voltas com a maior crise de sua história, o PSDB levará ao ar no próximo dia 17, em rede nacional de rádio e TV, uma propaganda partidária inusual. Nela, não haverá o tradicional desfile de lideranças. A vitrine eletrônica —dez minutos no horário nobre— será usada para enaltecer o parlamentarismo como sistema de governo ideal para o Brasil, um país em eterna ebulição política.

O parlamentarismo é uma velha bandeira do tucanato. A hipótese de ser implementado é remota. Ainda assim, o PSDB decidiu bater bumbo. Foi o pretexto que a legenda encontrou para esconder as aves do ninho, sobretudo Aécio Neves, cuja plumagem foi tisnada por nove inquéritos criminais abertos no Supremo Tribunal Federal.

Em condições normais, a um ano da corrida ao Planalto, o partido não hesitaria em aproveitar o tempo de propaganda que a lei lhe assegura para colocar um presidenciável no pedestal. Mas o PSDB não dispõem de um candidato consensual. Seria Aécio, pois ele bateu na trave na disputa de 2014. Mas o senador mineiro, com a biografia na lama, talvez tenha dificuldades para se eleger deputado federal.

O governador paulista Geraldo Alckmin tenta emplacar a própria candidatura. Mas seu nome também soou em delações premiadas da Lava Jato. De resto, sua posição nas pesquisas de intenção de voto provoca nos correligionários um entusiasmo de velório. A atmosfera fúnebre leva o prefeito paulistano João Doria, uma cria política de Alckmin, a sonhar com a hipótese de furar a fila dos presidenciáveis do PSDB.

Na propaganda partidária anterior, exibida em maio passado, o PSDB intercalou o falatório de jovens líderes municipais com o lero-lero dos seus bicos mais tradicionais—Aécio, Alckmin e Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. Embora a propaganda contivesse uma crítica à forma tradicional de fazer política, João Doria, que se autoproclama um não-político, foi excluído da peça.

Decorridos pouco mais de quatro meses, o futuro do tucanato está acorrentado a Michel Temer, um presidente que acaba de renovar sua aliança com a banda ladra da Câmara para enterrar a denúncia em que a Procuradoria o qualifica de corrupto. Rachada ao meio, a bancada de deputados tucanos deu sua cota de contribuição para salvar a Presidência de Temer (veja aqui como votaram os tucanos).

Nos subterrâneos, Aécio pegou em lanças por Temer. Os dois foram alvejados pelo mesmo delator: Joesley Batista, da JBS. O infortúnio alterou a natureza do relacionamento da dupla. Antes, mantinham uma aliança política. Agora, cultivam um vínculo de solidariedade penal do tipo em que uma mão suja a outra.

O PSDB não consegue se livrar de Aécio, hoje um filiado tóxico. Licenciado da presidência da legenda, o senador se move nos porões de Brasília como se pretendesse retomar o trono partidário. Incomodado com a desenvoltura de Aécio, o grão-tucano Tasso Jereissati, que preside interinamente a legenda, ameaça devolver o cetro a Aécio nesta quinta-feira. Ensaia o gesto desde o início da semana.

É contra esse pano de fundo conflagrado que a marquetagem do PSDB concebeu a propaganda que esconde as mazelas do tucanato atrás da bandeira do parlamentarismo —uma iniciativa da presidência interina de Tasso. Planeja-se exibir na próxima segunda-feira (7) um comercial de 30 segundos convidando a plateia para assistir à propaganda do dia 17. No convite, sem mencionar nomes, o PSDB admite que cometeu erros. Receia-se que Aécio vista a carapuça e implique com a peça, vetando-a.

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