segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Projeto presidencial de Meirelles foi carbonizado

Josias de Souza


Agora é o Henrique Meirelles quem diz que também não conseguirá cumprir a meta fiscal que jurava ser “exequível”. Prometera fechar as contas de 2017 com um rombo de R$ 139 bilhões. E admitirá diante das câmeras que a cratera será ainda maior. Pobres mães e pais do Brasil. Já não dispõem de exemplos para dar aos filhos. Resta-lhes dizer: “Não minta, meu filho. Olha que você acaba virando consultor do Joesley Batista na J&F ou ministro da Fazenda do governo de Michel Temer!”

Há dez meses, em 6 de outubro, Meirelles exibiu-se numa rede nacional de rádio e televisão como garoto-propaganda de um ajuste fiscal que, nas suas palavras, abriria “o caminho para a volta do crescimento da nossa economia e para a criação de empregos que tanto precisamos para o nosso povo.” Bastava que o Congresso enfiasse dentro da Constituição um teto para os gastos públicos. Nessa ocasião, Meirelles assumia um protagonismo típico de presidenciável.

O Congresso deu a Meirelles o teto de gastos. Mas o crescimento e os empregos não vieram com a pujança insinuada. Em fevereiro passado, Meirelles tocou trombone sob o telhado de vidro: ''A mensagem importante é que essa recessão já terminou.'' Os fatos não ornam com a fanfarra. No início do ano, o governo previa que a economia fecharia 2017 com alta de 1,6%. Chegou-se a falar em mais de 2%. Hoje, os otimistas agarram-se aos 0,3% prognosticados pelo FMI. Os pessimistas falam em zero a zero.

No pronunciamento do ano passado, aquele transmitido em cadeia nacional, Meirelles ecoava Temer ao realçar a herança ruinosa deixada por Dilma Rousseff. Sem mencionar o nome da presidente deposta, ele dizia ter assumido a pasta da Fazenda sob a pior recessão da história do país. Lembrava que o buraco de 2016 seria de R$ 170 bilhões. E acenava com a arrumação da casa.

O lero-lero do ministro era contraditório em relação à saraivada de reajustes salariais que o governo concedia na mesma época a várias corporações de servidores públicos. O noticiário alardeava o impacto bilionário. Mas todas as autoridades, incluindo Temer e Meirelles, diziam que os aumentos, negociados ainda no governo Dilma, já estavam computados nas projeções de déficit. Era magia negra.

Os economistas do governo atravessaram agulhas nos bonecos de 2016 e os efeitos estão sendo sentidos agora, na pessoa errada: você. No momento, além de preparar o anúncio da suspensão daqueles aumentos que assegurava ter contabilizado, o governo ameaça a plateia com a elevação de impostos.

Tudo isso num instante em que os partidos do centrão, grupo organizado pelo presidiário Eduardo Cunha, levam a faca à jugular de Temer. Exigem que o presidente abra os cofres para pagar a segunda parcela da fatura da salvação do seu mandato. Ironicamente, o grampo de Joesley Batista, ex-empregador de Meirelles, ajuda a carbonizar o projeto presidencial do ministro para 2018.

Mas nem tudo está perdido. O governo ainda pode tentar manter de pé a previsão segundo a qual o equilíbrio fiscal será alcançado em 2020, quando o país celebrará um superávit nas contas públicas de R$ 10 bilhões. Esse número certamente está errado. Mas até 2020 Henrique Meirelles estará fora do governo.

Meirelles não será presidente. Porém, os economistas sempre encontram soluções para os problemas do país quando deixam o governo e se transformam em consultores privados. Ou seja: Meirelles ainda dará lições ao Brasil sobre como consertar a economia. Assim, os pais e as mães logo terão um exemplo para dar aos filhos.

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