segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Impossível não gostar de "No útero da existência" escrito por Maciel Melo


No útero da existência

Postado por Magno Martins



Por Maciel Melo

Quando a estrada é longa, eu desassossego na noite anterior, imaginando ter que acordar no romper da aurora para rasgar o mundo e romper a linha do horizonte, rumo ao útero da minha existência. Pois bem, hoje, é um desses dias que viajo com o sorriso parecendo o teclado de uma sanfona, porque estou indo cantar meu canto, no lugar onde quase tudo em mim foi a minha primeira vez.

Iguaracy. Lá, tenho que fazer sempre o melhor de mim. Lá, ganho sempre o melhor que guardei no coração da terra, a elegância. A primeira lágrima, o primeiro grito, o primeiro apito, o primeiro trem. Maria Fumaça, piuííí–piuííí... Corríamos, todos descalços, camisas amarradas na cintura, chinelos enganchados nos pulsos, pra não apanhar se perdesse e, a algazarra irradiando no brilho dos olhos.

A primeira dança, o primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro sarro, o primeiro tudo, foi nos arredores desse tão singular canto, que eu amo tanto, que eu carrego tanto, que eu canto tanto e, que me deu a certeza do ser, do nascer e de estar aqui. A primeira professora, Rosete; eu tinha uma paixão por ela. Foi com ela que aprendi o significado da palavra platónica.

O primeiro porre, a primeira cana, a primeira aresta, o primeiro abraço, a primeira festa, o primeiro amor. Estou na estrada, parece até a primeira vez. O céu está parecendo um espelho refletindo as larvas de um vulcão. Estou indo para minha terra, vou cantar lá, bora gente?

Lá tem carne assada na brasa, tem cuscuz, tem tapioca, tem xerém, tem mandioca e tem braços abertos para abraçar, esperando de peito aberto, qualquer viajante que por ventura pegue um atalho e acabe esbarrando em seu terreiro, onde tem uma placa dizendo: Seja bem-vindo, aqui é a terra de Maciel Melo. Por isso eu digo: Se você for a Paris, não deixe de antes passar em Iguaracy.

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