Magno Martins Fonseca


Derrotado por Joaquim Francisco na eleição para o Governo de Pernambuco em 1990, Jarbas Vasconcelos despontou como favorito em todas as pesquisas na corrida pela Prefeitura do Recife dois anos depois, em 1992. Recife estava nas mãos do vice-prefeito Gilberto Marques Paulo, que governou por dois anos após a renúncia obrigatória de Joaquim para concorrer ao Palácio do Campo das Princesas.

Jarbas já havia sido prefeito, eleito em 1985, com uma aprovação espetacular, apontado como o melhor gestor de capital. Ainda ressabiado com o insucesso eleitoral de 90, resistiu até onde foi possível para não entrar na disputa. O responsável pelas articulações da sua candidatura foi o ex-ministro Fernando Lyra, que transitava bem entre os grupos que já começavam a antever o rompimento de Jarbas com Arraes.

Mas Lyra conseguiu estimular Jarbas, eleito no primeiro turno no pleito que marcou o seu afastamento definitivo de Arraes. Deputado federal mais votado no Estado em 90 numa chapinha que puxou mais cinco, Arraes enxergava a candidatura de Jarbas a prefeito do Recife como trampolim para o Governo do Estado e armou a estratégia de segurá-lo no cargo indicando o vice.

Então deputado estadual, Eduardo Campos, neto e herdeiro político de Arraes, cumpre o ritual de procurar Jarbas para uma conversa. O encontro, agendado para uma segunda-feira em que Arraes cumpria agenda em Afogados da Ingazeira com alguns auxiliares, entre eles Adilson Gomes, foi marcado na casa de Jarbas, no Rosarinho.

Eduardo tentou vender para Jarbas a ideia de que a sugestão da sua presença na chapa teria partido do presidente do PCdoB, Luciano Siqueira, hoje vice-prefeito do Recife. Foi uma conversa sem testemunhas e Eduardo já está morto, mas em nenhum momento Jarbas vetou Eduardo, conforme ele próprio rememora.

“Argumentei para Eduardo que ele vinha fazendo um bom mandato como deputado estadual e que sua presença na chapa o associava diretamente a Arraes, que havia perdido aderência no voto de opinião no Recife, segmento onde se sustentava fortemente a minha candidatura”, relembra Jarbas, 23 anos após o episódio.

Mas Eduardo entendeu os argumentos como um veto e localiza Arraes em Afogados da Ingazeira. Naquela época de comunicações precárias o único telefone disponível no hotel da cidade era um orelhão. Sem saber ainda do que se tratava, mas percebendo que Eduardo estava tenso e angustiado, Adilson comprou 10 fichas para a ligação não ser interrompida.

“Acabada a conversa, Arraes olhou para mim e disse: cancela toda a nossa programação porque tenho que voltar agora. No carro em direção ao campo de pouso de Afogados ele apenas disse que estava sofrendo mais um golpe”, relembra Adilson. Em solo recifense, Arraes segue direto para uma reunião com o seu grupo, saindo de lá com a decisão de lançar Eduardo candidato a prefeito.

Jarbas se elegeu prefeito com Silvio Pessoa, escolha pessoal dele, na vice, enquanto Eduardo Campos terminou no quinto lugar, numa eleição que contou ainda com as candidaturas de André de Paula pelo PFL, Humberto Costa pelo PT, Luciano Bivar pelo PL e Newton Carneiro pelo PSC.

Rompido com o antigo grupo, Jarbas começava a costurar uma aliança com os antigos rivais do PFL (hoje DEM), que anos depois seria batizada de União por Pernambuco - ou “o caminho da perdição”, célebre frase de Arraes. A troca de farpas entre ambos teve seu ápice em 1998, quando Jarbas derrotou Arraes por mais de um milhão de votos de diferença, impedindo a reeleição do socialista.

O fato de Eduardo não ter sido o vice, entretanto, foi encarado pela mídia como um troco de Jarbas a Arraes, por este ter feito corpo mole na campanha de 1990, em que ele (Jarbas) perdeu para Joaquim. Arraes e Jarbas nunca mais se entenderam.

Em 1996, Jarbas ajudou a eleger Roberto Magalhães (PFL) prefeito do Recife, enquanto Arraes ficou com Roberto Freire (PPS). Dois anos depois, em 1998, Jarbas teve a sua maior vitória frente a Arraes.

Em 2005, Jarbas deu uma trégua: visitou Miguel Arraes no hospital dias antes da sua morte. Com a morte do avô, Eduardo passou a liderar o PSB e em 2006 foi eleito governador contra Mendonça Filho (PFL). Em 2010, Eduardo devolveu a Jarbas a derrota imposta a Arraes em 98, vencendo-o com uma diferença de quase três milhões de votos.