Em parceria com o também pernambucano
ex-presidente Lula, mudou a economia do estado, transformando-o num
canteiro de obras, ganhou a queda de braço de 30 anos com outros estados
nordestinos por uma refinaria da Petrobras, foi eleito o melhor
governador do Brasil por dois anos seguidos com 86% de avaliação
positiva, é aliado fiel do governo Dilma Rousseff e comanda o partido
com pulso de ferro. Mas, entre os aliados, paira uma desconfiança de que
o político mais poderoso do Nordeste vá lhes dar uma rasteira em 2014.
Cultuado até pela oposição
Afável, bom contador de “causos”, um dos
melhores imitadores de seu guru político, o ex-presidente Lula, Eduardo
Campos é cultuado publicamente, por conveniência, na base governista e
na oposição. Pelo crescimento e desenvoltura, é visto como ameaça pelos
dois lados. E também é entre políticos dos dois lados que já se faz com
frequência uma pergunta comum: é um coronel moderno com mais verniz ou
um socialista que prefere o Diário Oficial a “O Capital”?
Apesar de não trazer o sobrenome, Eduardo
Campos colou no avô bem cedo. Entrou na Faculdade de Economia da
Universidade Federal de Pernambuco aos 16 anos e, já na primeira
campanha, para derrubar o antigo Diretório Acadêmico, contou com a ajuda
da mãe, Ana Arraes, que no dia da eleição lhe deu um conselho que
repete até hoje:
- Vá para ganhar!
Aos 19 anos, em 1986, fez campanha para o
avô que voltava do exílio e disputava o governo de Pernambuco. Com a
vitória, passou a chefe de gabinete. Em 1994, no novo governo de Arraes,
assumiu o cargo mais importante do governo, o de secretário da Fazenda.
Foi quando protagonizou o escândalo dos
precatórios. Uma CPI no Congresso Nacional resultou numa denúncia do
Ministério Público Federal para apurar sua responsabilidade na acusação
de emitir fraudulentamente títulos públicos de Pernambuco para pagar
precatórios pendentes.
Houve uma completa desconstrução de sua
imagem e da do então governador Arraes. A reabilitação na eleição de
1998, da qual muitos duvidavam, virou um case eleitoral: ele se elegeu
deputado federal e virou líder do PSB na Câmara.
Na eleição de 2002, uma ala do PSB apoiou
o peemedebista Anthony Garotinho para a eleição presidencial, mas
Eduardo Campos aproximou o partido de Lula, começando uma parceria que
persiste até hoje. Com as trapalhadas do então presidente do PSB,
Roberto Amaral, no Ministério da Ciência e Tecnologia, articulou em
causa própria e acabou ocupando a vaga na Esplanada.
Em 2006, com o apoio de Lula, elegeu-se
governador. Outro grande trunfo na época foi o arquivamento do processo
dos precatórios pelo STF, inocentando Campos e Arraes. A absolvição
derrubou a única agenda negativa que os adversários na disputa tinham
contra ele.
É casado com a economista e auditora
concursada do Tribunal de Contas do Estado Renata e tem quatro filhos –
Maria Eduarda, João Henrique, Pedro Henrique e José Henrique. Os
adversários dizem que Eduardo Campos difere do avô Miguel Arraes na
questão do “patrimonialismo e familismo”. O governador teria transferido
a família dele e da mulher para o governo. O irmão João Campos,
escritor, virou promotor da Fliporto, uma feira de livros que é
particular, mas conta com patrocínios de órgãos estaduais e federais.
Antes de ter a imagem arranhada na cena
política nacional pela campanha que fez para eleger a mãe como ministra
do Tribunal de Contas da União (TCU), ano passado, ele já tinha se
cercado de parentes no Tribunal de Contas do Estado (TCE). A mulher já
era auditora concursada. Mas ele indicou e nomeou como conselheiros um
primo seu, João Campos; e um primo da mulher é um dos seus homens
fortes, Marcos Loreto.
O ex-líder petista Maurício Rands,
nomeado secretário de Articulação Institucional do governo de
Pernambuco, é primo de Renata. O atual secretário da Casa Civil, Tadeu
Alencar, é primo do governador. O pai de Renata, o médico Cyro de
Andrade Lima, foi nomeado membro do Conselho de Administração da estatal
de saneamento Compesa.
- Hoje, Eduardo Campos deseja se tornar
hegemônico na esquerda, sepultando o PT ou subordinando-o inteiramente
ao Palácio (das Princesas, sede do governo local). Sobre a oposição, ele
mesmo desdenha e diz que ela está falando apenas para 6% do eleitorado,
pois 90% o aprovam, segundo as pesquisas, e 4% estão indecisos – diz a
ex-deputada tucana Teresinha Nunes, uma das poucas vozes da oposição em
Pernambuco.
Um dos mais proeminentes representantes
do capital e aliado de primeira hora em Pernambuco, o ex-presidente da
Confederação Nacional da Indústria(CNI) e senador eleito em sua chapa,
Armando Monteiro Neto (PTB-PE), diz que Eduardo Campos recuperou a
autoestima dos pernambucanos ao colocar o estado numa posição de
liderança na região.
- Eduardo é o emblema de um novo tempo para Pernambuco – diz Monteiro.
O escritor Ariano Suassuna é quase um
amuleto que Eduardo Campos carrega desde que deu os primeiros passos na
política. Quando nasceu da união do escritor Maximiano Campos e Ana
Arraes, sua vizinhança era, na frente, a casa de Ariano. Do lado, a do
avô Miguel Arraes. Suassuna tem com ele uma relação paternal e diz que a
amizade começou desde antes de ele nascer.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa
(PE), disputou com Eduardo Campos o governo em 2006, e a campanha não
foi nada amena. Agora travam de novo uma guerra surda, porque Campos não
quer que ele dispute o governo em 2014 com seu afilhado, o ministro
Fernando Bezerra (Integração Nacional), em evidência neste início de
ano, acusado de ter favorecido seu estado com recursos para prevenção e
combate a enchentes.
A proximidade maior de Campos no PT é com
Lula, com quem se reúne amiúde para discutir decisões de governo e
alianças regionais. Semana passada, ao voltar de uma viagem aos Estados
Unidos, desceu em São Paulo para almoçar com o ex-presidente.
Na campanha de Dilma, ganhou pontos ao
enquadrar e obrigar o correligionário Ciro Gomes (CE) a desistir de se
candidatar a presidente. Ganhou eterna gratidão de Lula, mas também um
desafeto barulhento no partido. Ciro não o perdoa. Já disse, por
exemplo, que Campos não tem a experiência que ele, Ciro, tem em
campanhas presidenciais.
- Lula e Dilma ainda vão se arrepender. Eduardo Campos ainda vai dar uma rasteira – aposta, na surdina, um dirigente petista.
Parcerias com o PSDB
Mesmo sendo apontado como um fiel aliado
de Lula e Dilma, o governador pernambucano tem parcerias eleitorais com o
PSDB de Aécio Neves em vários estados e é estimulado a disputar a
Presidência em 2014 por setores da base governista e da oposição –
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), por exemplo,
consideram que, por seguir desde o início a política bem-sucedida
Lula/Dilma, ele teria até mais chances que Aécio Neves.
- Eduardo Campos é hoje a liderança mais destacada do Nordeste e com maior poder de aglutinação – diz Geddel.
O cientista político pernambucano Antônio Lavareda, ligado ao PSDB, reconhece seu potencial:
- Eduardo Campos conseguiu colocar seu nome na prateleira dos presidenciáveis para 2014.
- É um quadro da política nacional que
tem contribuído muito com nosso estado. A economia mudou. Eduardo é
inteligente, trabalhador e sensível. Não conheço inimigos políticos dele
– diz a mãe, Ana Arraes.
A ministra atual do TCU acha que o filho aprendeu bem o ensinamento de que, se vai para uma disputa, tem que ser para ganhar:
- Tudo começa na cabeça. Se você coloca
na cabeça e vai para uma eleição se sentindo derrotado, vai perder. Não é
uma coisa de prepotência, de ganhar de qualquer jeito.
Mas seus adversários políticos não
concordam que é só uma questão de persistência. Dizem que Eduardo Campos
é extremamente agressivo quando quer conquistar alguma coisa. E, se
resolvem lhe enfrentar, é no tudo ou nada: “se está comigo ótimo, se
está contra mim, espere”, contam os inimigos políticos.
Adversário de Arraes em 1986 na disputa
pelo governo de Pernambuco, o hoje ministro do TCU José Múcio Monteiro
conhece Eduardo Campos desde menino. E é farto nos elogios:
- Eduardo é um homem simpático,
extremamente agradável, mas também extremamente decidido e determinado. E
muito duro quando precisa ser. É afável e simpático, mas um gestor
duro, que busca muita eficiência de gestão, mais voltado para a história
do avô com as classes menos favorecidas.
O governador foi procurado
insistentemente pelo GLOBO desde a semana passada para uma entrevista.
Por último foi prometida uma resposta a perguntas enviadas por escrito,
mas até as 22h de sexta-feira ela não chegou.